O Passado no Presente
Pensei em começar uma história baseada em uma idéia que tive um tempo atrás, e acho que vai ficar bem interessante. Então lá vai o capítulo um.
_________________________________________________________________
Eu sempre quis ter uma máquina do tempo. Muitos erros sem correção e muita saudade de coisas que não existem mais. Mas na época em que eu mais precisava, essa maravilhosa invenção ainda não havia sido criada, mas nunca perdi a esperança. Eu continuei esperando, dia após dia. Anos se passaram sem que a minha maior vontade fosse realizada. Enfim, em 2025 tudo isso mudou.
A primeira e inovadora máquina do tempo foi criada. Eu tinha crescido muito no meu cargo de presidente de tecnologia na área de livros, uma das minhas maiores paixões, então arrumar o dinheiro para comprá-la foi fácil.
Passaram-se uma, duas, três semanas para que o meu sonho chegasse dentro de uma caixa de papelão. Meu porteiro me interfonou numa tarde de terça feira dizendo que uma caixa extrordináriamente grande me esperava do lado de fora do prédio. Dei um suspiro de alívio. Toda espera acabaria e finalmente eu poderia ter o que mais queria na vida: voltar no tempo.
Mas uma coisa não estava certa. Eu deveria estar muito feliz, realizada até, mas não. Eu estava com medo. Medo de toda a dor que eu sentia quando era mais jovem voltasse se eu assistisse as minhas cenas de felicidade no passado. Eu não entendia. Passara grande parte da minha vida esperando por esse momento e quando ele chegou, eu hesitei. Eu hesitei porque tudo aquilo tinha acontecido há tanto tempo que eu não tinha mais certeza se tudo o que eu lembrava tinha acontecido, pois depois que as coisas ruins vieram eu tentava sobrepô-las com as fantasias, e a minha imaginação pode ser muito fértil quando eu quero, então não queria me decepcionar. Não sei se no final tinha sido uma boa ideia, pra começar. É claro que eu sentia falta, não havia nenhuma dúvida, mas quando a caixa chegou, decidi esperar mais um pouco.
Nas duas semanas seguintes eu realmente me foquei no trabalho. Dei tudo de mim para terminar uma apresentação para o meu chefe, que por sinal era um crápula. Pela primeira vez, ele me disse que estava excelente, o que fez com que a minha autoestima subisse ás alturas. O que eu não esperava era que ele me perguntasse o que tinha acontecido essas ultimas semanas, acrescentando que meu trabalho e dedicação, além do meu humor, estavam muito melhores. Eu não sabia o que responder, mas tinha certeza que tinha relação com o grande evento da chegada da minha máquina do tempo. Dei um sorriso sem graça e disse que não sabia o que tinha acontecido, mas definitivamente estava melhor do que antes. Um grande peso tinha sido tirado dos meus ombros naquela terça-feira incomum.
Toda noite eu chegava em casa, sentava no sofá da sala e encarava a enorme caixa de papelão que se encontrava encostada num canto e pensava: "Não, ainda não é a hora." Quem olhasse poderia pensar que era uma geladeira um pouco grande demais, um armário talvez, mas nunca uma máquina do tempo. Nínguem ainda tinha se acostumado com a ideia de que agora era possível voltar no tempo, mas eu já tinha em mente que, se eu quissese, a qualquer minuto eu poderia entrar dentro dessa máquina e voltar para qualquer hora já vivida por mim, e isso era incrível.
Respirei fundo. Se eu tinha ido até o fim e comprado essa máquina, eu tinha que testá-la, certo? Nem tão certo assim, porque a incerteza era presente, mas dessa vez não recuei. Abri a grande caixa pela primeira vez desde que ela tinha entrado pela porta dos fundos do meu apartamento. Me deparei com uma máquina que poderia ser confundida com uma caixa metálica. Abri a sua porta e vi um pequeno espaço de no mínimo dois metros quadrados, com apenas o que parecia ser uma calculadora grudada em uma das paredes. Tinham botões que selecionavam o ano, a data e a hora que queria seguir e um botão para voltar para o tempo em que eu estava vivendo no momento. Um frio na barriga enorme me dominou, mas nada me deteu de colocar uma data no mostrador.
Eu escolhi uma data nem tão emotiva para começar. Não queria estar em prantos nos primeiros minutos da minha viagem temporal. Escolhi o primeiro dia do sétimo ano do ensino fundamental. Foi um ano importante, repleto de pessoas que fazem falta e de acontecimentos importantes. Enquanto vivia aquele dia, nunca poderia esperar que tanta coisa mudaria, que todas aqueles desconhecidos até então, poderiam virar tão especiais. Queria rever como era a vida momentos antes de tudo mudar pela primeira vez.
De repente ouvi um estrondo seguido de tremores que rápidamente acabaram. Parei por um instante. Será que tinha funcionado? Abri a porta e me deparei com uma sala de aula. Observo vários grupos de crianças conversando animadamente contando aos seus amigos como tinham sido suas férias. Todos excitadíssimos com a nova classe e com a inúmera possibilidade de fazer novas amizades. Olhei para o canto direito e me vi. Congelei instantaniamente. Tinha funcionado. Ali estava eu, com apenas doze anos, feliz de estar com as minhas amigas Patrícia e Daniela, que até hoje são as minhas melhores confidentes. Nos olhava conversando e me lembrava da sensação que me dominava naquele momento, quinze anos atrás. Eu estava feliz. Observava as novas pessoas, as meninas, os meninos. Comentava que estava ansiosa pelo ano que estava por vir. Se eu soubesse... Muitas coisas aconteceram a partir daquele momento. Eu conheci meus primeiros melhores amigos.
Eu nunca tinha tido melhores amigos meninos. Sempre andava com as minhas amigas, que eram sempre minha prioridade. Nunca tinha pensado que os meninos poderiam ser, para mim, tão importantes como amigas meninas. E foi nesse momento em que os vi. Todos juntos, rindo, olhando ao redor a procura de rostos amigáveis. O primeiro dia sempre era cheio de surpresas. Meus olhos lacrimejaram, mas não chorei. Era um dia de lembranças alegres e não tristes, então não era motivo para lágrimas.
Então eu observei por um tempo. Me encostei na parede do fundo da classe e esqueci da minha vida presente. Era tão estranho viajar no tempo...
_________________________________________________________________
Eu sempre quis ter uma máquina do tempo. Muitos erros sem correção e muita saudade de coisas que não existem mais. Mas na época em que eu mais precisava, essa maravilhosa invenção ainda não havia sido criada, mas nunca perdi a esperança. Eu continuei esperando, dia após dia. Anos se passaram sem que a minha maior vontade fosse realizada. Enfim, em 2025 tudo isso mudou.
A primeira e inovadora máquina do tempo foi criada. Eu tinha crescido muito no meu cargo de presidente de tecnologia na área de livros, uma das minhas maiores paixões, então arrumar o dinheiro para comprá-la foi fácil.
Passaram-se uma, duas, três semanas para que o meu sonho chegasse dentro de uma caixa de papelão. Meu porteiro me interfonou numa tarde de terça feira dizendo que uma caixa extrordináriamente grande me esperava do lado de fora do prédio. Dei um suspiro de alívio. Toda espera acabaria e finalmente eu poderia ter o que mais queria na vida: voltar no tempo.
Mas uma coisa não estava certa. Eu deveria estar muito feliz, realizada até, mas não. Eu estava com medo. Medo de toda a dor que eu sentia quando era mais jovem voltasse se eu assistisse as minhas cenas de felicidade no passado. Eu não entendia. Passara grande parte da minha vida esperando por esse momento e quando ele chegou, eu hesitei. Eu hesitei porque tudo aquilo tinha acontecido há tanto tempo que eu não tinha mais certeza se tudo o que eu lembrava tinha acontecido, pois depois que as coisas ruins vieram eu tentava sobrepô-las com as fantasias, e a minha imaginação pode ser muito fértil quando eu quero, então não queria me decepcionar. Não sei se no final tinha sido uma boa ideia, pra começar. É claro que eu sentia falta, não havia nenhuma dúvida, mas quando a caixa chegou, decidi esperar mais um pouco.
Nas duas semanas seguintes eu realmente me foquei no trabalho. Dei tudo de mim para terminar uma apresentação para o meu chefe, que por sinal era um crápula. Pela primeira vez, ele me disse que estava excelente, o que fez com que a minha autoestima subisse ás alturas. O que eu não esperava era que ele me perguntasse o que tinha acontecido essas ultimas semanas, acrescentando que meu trabalho e dedicação, além do meu humor, estavam muito melhores. Eu não sabia o que responder, mas tinha certeza que tinha relação com o grande evento da chegada da minha máquina do tempo. Dei um sorriso sem graça e disse que não sabia o que tinha acontecido, mas definitivamente estava melhor do que antes. Um grande peso tinha sido tirado dos meus ombros naquela terça-feira incomum.
Toda noite eu chegava em casa, sentava no sofá da sala e encarava a enorme caixa de papelão que se encontrava encostada num canto e pensava: "Não, ainda não é a hora." Quem olhasse poderia pensar que era uma geladeira um pouco grande demais, um armário talvez, mas nunca uma máquina do tempo. Nínguem ainda tinha se acostumado com a ideia de que agora era possível voltar no tempo, mas eu já tinha em mente que, se eu quissese, a qualquer minuto eu poderia entrar dentro dessa máquina e voltar para qualquer hora já vivida por mim, e isso era incrível.
Respirei fundo. Se eu tinha ido até o fim e comprado essa máquina, eu tinha que testá-la, certo? Nem tão certo assim, porque a incerteza era presente, mas dessa vez não recuei. Abri a grande caixa pela primeira vez desde que ela tinha entrado pela porta dos fundos do meu apartamento. Me deparei com uma máquina que poderia ser confundida com uma caixa metálica. Abri a sua porta e vi um pequeno espaço de no mínimo dois metros quadrados, com apenas o que parecia ser uma calculadora grudada em uma das paredes. Tinham botões que selecionavam o ano, a data e a hora que queria seguir e um botão para voltar para o tempo em que eu estava vivendo no momento. Um frio na barriga enorme me dominou, mas nada me deteu de colocar uma data no mostrador.
Eu escolhi uma data nem tão emotiva para começar. Não queria estar em prantos nos primeiros minutos da minha viagem temporal. Escolhi o primeiro dia do sétimo ano do ensino fundamental. Foi um ano importante, repleto de pessoas que fazem falta e de acontecimentos importantes. Enquanto vivia aquele dia, nunca poderia esperar que tanta coisa mudaria, que todas aqueles desconhecidos até então, poderiam virar tão especiais. Queria rever como era a vida momentos antes de tudo mudar pela primeira vez.
De repente ouvi um estrondo seguido de tremores que rápidamente acabaram. Parei por um instante. Será que tinha funcionado? Abri a porta e me deparei com uma sala de aula. Observo vários grupos de crianças conversando animadamente contando aos seus amigos como tinham sido suas férias. Todos excitadíssimos com a nova classe e com a inúmera possibilidade de fazer novas amizades. Olhei para o canto direito e me vi. Congelei instantaniamente. Tinha funcionado. Ali estava eu, com apenas doze anos, feliz de estar com as minhas amigas Patrícia e Daniela, que até hoje são as minhas melhores confidentes. Nos olhava conversando e me lembrava da sensação que me dominava naquele momento, quinze anos atrás. Eu estava feliz. Observava as novas pessoas, as meninas, os meninos. Comentava que estava ansiosa pelo ano que estava por vir. Se eu soubesse... Muitas coisas aconteceram a partir daquele momento. Eu conheci meus primeiros melhores amigos.
Eu nunca tinha tido melhores amigos meninos. Sempre andava com as minhas amigas, que eram sempre minha prioridade. Nunca tinha pensado que os meninos poderiam ser, para mim, tão importantes como amigas meninas. E foi nesse momento em que os vi. Todos juntos, rindo, olhando ao redor a procura de rostos amigáveis. O primeiro dia sempre era cheio de surpresas. Meus olhos lacrimejaram, mas não chorei. Era um dia de lembranças alegres e não tristes, então não era motivo para lágrimas.
Então eu observei por um tempo. Me encostei na parede do fundo da classe e esqueci da minha vida presente. Era tão estranho viajar no tempo...
Comentários
Postar um comentário