500 dias sem eles

O pior período da minha vida começou quando eles partiram. Não sabia o que fazer, não sabia o que pensar, não sabia o que sentir. A única coisa que eu sabia é que tinha muita dor dentro de mim. Uma dor tão forte que as vezes eu não conseguia respirar. Eu chorava todos os dias. As únicas coisas que se passavam na minha cabeça eram: "você não era boa o bastante" "não era bonita o bastante para eles continuarem com você" "você não é magra o bastante, simpática o bastante." "eles te deixaram porque descobriram que você é fraca, quebrável, sem valor, e transtornada." E essas frases estavam na minha mente, dia e noite, dia e noite. Eu não aguentava. Era muita coisa para uma menina de treze anos. Eu não era forte. E eu não aguentei. Peguei uma lâmina e fiz um corte no meu braço esquerdo. E não parei mais. Não parei porque não conseguia, porque era o único jeito de lidar com a dor, já que ninguém entendia o que eu estava passando. Eu tinha que aguentar as palavras frias dos meus assim chamados amigos, que fingiam nunca ter dito que sempre estariam lá por mim, que me amavam e que me ajudariam quando eu mais precisasse. Eles fizeram tudo que eles disseram que nunca fariam. Eles fizeram e disseram as coisas que mais me machucaram em toda a vida até agora, dois anos depois. Eu ficava tentando consertar tudo, sabe? Tentando consertar o que já não tinha mais conserto, o que já tinha desmoronado. Eu ficava lembrando de todos os momentos e me perguntando se tinha sido tudo mentira. Era demais pra mim. Eu aguentava as maldades e fingia não ficar triste pensando que se eu fingisse estar bem com tudo aquilo eles voltariam para mim. Eu pensava, que estúpida, que talvez tudo pudesse voltar a ser como era antes. Tudo o que eu queria era os meus amigos de volta. Queria que alguém se importasse comigo. Mas esse alguém nunca apareceu, então eu tive que me virar. Psicólogos e psiquiatras tentaram me ajudar, sem sucesso. Não precisava de alguém para me escutar, ou pílulas para me curar, mas sim de me uma pessoa que estivesse disposta a me perguntar se eu estava bem. Mas o pior é que eu tinha certeza de que esses "amigos" mudariam de ideia e vissem o erro que cometeram. Eles nunca perceberam o quanto me mudaram e o quanto eu sofri para continuar respirando, pois já pensava em suicídio. Perder um amigo já é péssimo, mas eu perdi quatro de uma vez só. Não sabia o que poderia me fazer melhorar, me fazer sorrir sem estar fingindo. Depois que eu perdi de uma vez por todas o contato com eles, em termos, pode-se dizer que eu melhorei. Melhorei, não por tudo ter se resolvido, porque não se resolveu, mas porque não tinha que vê-los todos os dias nem ouvir as suas conversas, mas também porque eles nunca mais vieram falar comigo. Entretanto, alguma coisa ainda não estava resolvida para mim. Tudo simplesmente acabou: do péssimo convívio para nenhuma palavra trocada por meses. Não conseguia acreditar que a nossa amizade tinha acabado de uma hora para outra. Era um sufoco vê-los todos os dias na escola e se quer trocar um olhar. Era uma tortura andar ao lado deles na saída e não receber nem um "oi". Era horrível realmente me tocar que tudo estava terminado, de uma hora para outra. Como podem imaginar, eu não consegui deixar por isso mesmo. Quando via uma oportunidade de ter uma conversa com algum deles sozinhos (porque todos juntos era difícil demais), eu pegava. Nenhuma delas deu algum resultado. Com o tempo eu fui me acostumando, mas com essa palavra não quero dizer esquecendo. Certamente, eu nunca esqueceria, pois quem esquece o primeiro coração partido? Mas infelizmente, quando eu menos esperava, um deles me mandava uma mensagem e conversávamos como se nada tivesse acontecido, o que fez eu me perguntar novamente: "O que foi que eu fiz pra acabar com isso?" Apesar de estar amando conversar com o meu "ex" melhor amigo de novo, não conseguia deixar de pensar qual era o propósito de ele ter vindo me chamar. Essa foi uma das muitas perguntas que eu nunca consegui resposta. Mais uma icógnita para a minha coleção. O tempo passou. O contato diminuiu ainda mais. Eu não converso, nem os vejo. Não sinto mais falta, finalmente. E é assim que termina a história que nunca teve realmente, um fim.

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